Casa de Apoio recebe primeira paciente criança vinda de Boa Vista

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Casa de Apoio recebe primeira paciente criança vinda de Boa Vista

A Casinha da AMEO abriga pela primeira vez uma criança como paciente em tratamento contra doenças do sangue. A menina Ana Lethicia Sobral Lima, de apenas 11 anos, veio com a mãe de Boa Vista, Roraima, a mais de 3304 km de distância, para continuar o tratamento contra uma leucemia em São Paulo. A menina está na Casa de Apoio desde 24 de maio recebendo todo o suporte possível.

A AMEO possui o registro no CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente) desde outubro de 2016. O CMDCA é um órgão que tem como função propor, deliberar e acompanhar as políticas públicas em prol das crianças e dos adolescentes e optamos por iniciar esse atendimento somente após realizar o registro e cumprir toda a legislação necessária.

Ana Lethicia teve o primeiro diagnóstico no início desse ano. A garota começou a sentir dores na região abdominal, as glândulas do pescoço incharam e ela perdeu o apetite. “Tudo o que eu comia eu vomitava. Saía sangue no meu nariz e quando eu tossia, saía sangue” relembra Ana Lethicia.

Após um hemograma completo, descobriram uma queda brusca no número de leucócitos. Com a notícia, Ana Lethicia foi encaminhada para Manaus. “Eu me senti arrasada, porque eu também sou da área da saúde e eu sempre cuidei de outros pacientes. A gente nunca espera acontecer com alguém da nossa família” conta Lana Tricia Lima Sobral, mãe de Ana Lethicia. “Eu chorava muito, a gente fica muito preocupada, faltou um pouquinho da parte psicológica no começo. Aí comecei a pesquisar muito na internet sobre leucemia” completa a enfermeira.

A criança menciona com inocência que sequer conhecia a doença. “Pra falar a verdade, eu nem sabia o que era leucemia. Não sabia nada. Pensava que era só tomar remédio e ir pra casa”. Ela não entendia porque seus pais estavam tristes. No decorrer do tratamento a família começou a explicar para ela o que a doença significa de fato. “Eu fiquei muito triste, eu não falava, não andava, não comia. Eu não olhava pra cara de ninguém, nem da minha mãe” narra com tristeza.

À medida que o tratamento em Manaus avançava, Ana Lethicia se dava conta que não era uma simples doença. “Eu tinha muito medo, porque eu vivia tomando remédio quando eu estava na UTI. De três em três minutos vinha alguém perguntar se eu estava bem. Eu ficava preocupada. Minha pressão sempre dava alta, eu vivia vomitando, com dor, eu só dormia, eu não comia, eu fiquei um mês sem comer normalmente, só através de sonda”.

Ela ficou 14 dias na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e passou 45 dias internada. A mãe conta que quando a filha iniciou o tratamento, a menina teve forte reação à quimioterapia, pois a imunidade dela diminuiu muito. “Ela começava a fazer a quimioterapia e tinha que suspender, porque ela ficava internada” diz Lana.

Então, dia 8 de maio Ana Lethicia teve um sonho com um amiguinho do hospital onde ela se tratava, Pedro Paulo, que faleceu. “Ela sonhou com ele pedindo que ela saísse de Manaus, porque ele estava com medo que acontecesse alguma coisa com ela. Lethicia me contou que teve esse sonho e que não queria mais ficar em Manaus, porque estava com medo de morrer” narra a mãe emocionada.

Lana, que já estava preocupada com as condições do tratamento que Ana Lethicia fazia, decidiu pedir para a madrinha da menina criar uma página no Facebook. A página chamada “Ajude a Lele@Princesa Lethicia”, que pedia ajuda para que a garota fosse transferida para São Paulo, logo ganhou destaque em Roraima. Através dessa rede criada, o voluntário da AMEO, Reinaldo Gomes foi contatado em São Paulo.

Dessa forma a menina Ana Lethicia veio para a cidade e conseguiu prosseguir seu tratamento com a equipe do Dr. Vicente Odoni do ITACI (Instituto de Tratamento do Câncer Infantil I São Paulo). “Nós fomos muito bem acolhidas no hospital, é muito bom o tratamento lá, agora estou tranquila” diz Lana aliviada.

Hoje, a garota já se acostumou com a doença e leva o tratamento com o jeito único de criança. “Já me acostumei a tomar remédio. Só que eu só tomo com suco”. Ana Lethicia aprendeu a importância de se cuidar. “Eu sou muito cuidadosa. Quando eu venho do hospital eu fico mais no quarto. A maioria das vezes eu como dentro do quarto, porque minha boca está com ferida, e aí posso pegar alguma coisa. E eu não quero voltar pro hospital não” completa a menina com seu jeitinho intenso de falar.

Lana, preocupada como só as mães podem ser, tem todos os acontecimentos do tratamento da filha anotados no celular, pois algum médico pode perguntar sobre qualquer procedimento feito há meses e ela saberá responder tudo de imediato. Ana Lethicia, que não sai dos olhos da mãe, passa o tempo na Casa de Apoio como qualquer criança: desenhando, pintando, conversando com a família, vendo fotos da irmãzinha, mexendo no celular, dublando no Musical.ly.

Até canal no Youtube ela tem. O canal foi feito a partir do incentivo dos pais, para que Ana Lethicia tivesse com o que se ocupar. A mãe conta que quando pesquisava na internet sobre a doença, pouco encontrou sobre conteúdo feito por crianças voltado à leucemia, por isso encorajou a filha a criar o próprio canal. Assista ao canal clicando aqui.

A mudança de Roraima para São Paulo não está sendo fácil para mãe e filha. Ana Lethicia reclama do barulho da cidade grande e também da comida. “Sinto falta do peixe, o tambaqui, da galinha caipira, da carne de carneiro, essas coisas assim bem do Norte. Farinha amarela, paçoca de carne” lembra ela, lambendo os lábios.

Mas do que mais Ana Lethicia sente falta é da família. “Meu irmão tem oito meses e ele não sabe falar, mas ele reconhece minha voz. Meu primo já tem um ano, ele já fala comigo, ele já se lembra de mim. Meu irmão não, porque eu saí de lá, ele tinha três meses”. Saudade essa que Lana compartilha. A mãe deixou a filha menor em Boa Vista com o esposo. “É muito ruim a gente vir para outro estado, longe de tudo na nossa vida, mas a gente está fazendo tudo pela vida da Lethicia e a gente crê muito em Deus que ela vai ficar curada”.

Lana também estranha o custo de vida alto da capital. “Graças a Deus a gente tem a Casa de Apoio para poder nos auxiliar em tudo” diz ela. “A gente está sendo muito bem acolhido aqui na casa, por todos os profissionais, me senti muito bem acolhida, a Lethicia gosta muito daqui, né, Lethicia?” completa ela junto com balançar de cabeça assertivo da filha.

Lana conta que os exames de Ana Lethicia vão muito bem. “A médica disse que Lethicia está respondendo bem ao tratamento, ficou até admirada”. Sobre o futuro, “a gente tá orando muito para ela fique curada só com a quimioterapia, que tem 80% de chance da cura. Para gente retornar para nossa família” finaliza Lana esperançosa.

Texto e fotos: Andressa Villagra