Entrevista exclusiva com a Dra. Mary Flowers no XXIX Congresso SBTMO

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Entrevista exclusiva com a Dra. Mary Flowers no XXIX Congresso SBTMO

Neste mês de agosto, a AMEO esteve presente no XXIX Congresso SBTMO, onde contou com um stand exclusivo. Convidamos a Dra. Mary Flowers para uma entrevista especial.

Mary Flowers nasceu em Natal (RN). Graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em 1977. Ela fundou o Programa Nacional de Transplante de Medula Óssea no Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Rio de Janeiro, e colaborou com diversos serviços de hematologia e transplante de medula óssea no Brasil e no exterior. Docente da Universidade de Washington (Estados Unidos) e coordenadora do Programa de Acompanhamento Pós-Transplantes da instituição, a Profª Mary tem ministrado palestras e conferências em países da Europa, Ásia e América do Norte. Autora de mais de 300 trabalhos publicados em periódicos nacionais e internacionais, desenvolve pesquisas nas áreas de tratamento de complicações do transplante de medula óssea, como a doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH), e do uso de imunoterapia celular em recaídas de doenças malignas hematológicas. Fonte: https://www.ufc.br/noticias/noticias-de-2023/18059-medica-e-professora-mary-flowers-recebe-titulo-de-doutora-honoris-causa-da-ufc

Mary sentou-se no stand da AMEO para um bate-papo com a Dra. Carmen Vergueiro, diretora executiva da AMEO. A natalense compartilhou sua experiência no mundo da medicina, destacando como aprendeu com os pacientes e suas histórias de vida:
“Aprendi muito com o paciente, sobre a vida. O paciente tem uma história a ser contada.”

A Dra. Mary trabalhou no SUS antes de se mudar para os Estados Unidos e contou que gostava muito dessa vivência, era muito feliz e aprendeu muito. Quando se mudou, acreditava que a realidade seria diferente, mas percebeu que não havia tantas diferenças:
“Aprendi que o paciente não tem nacionalidade. As necessidades emocionais, sociais e financeiras são as mesmas em qualquer lugar.”

A Dra. Mary desenvolve pesquisas nas áreas de tratamento de complicações do transplante de medula óssea, como a doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH). Ela explica que falar sobre DECH faz parte da educação na introdução do programa de transplante, mas observa:
“Quando você está diante de um câncer com risco de morte em um ano, mesmo que eu fale sobre complicações do DECH que podem surgir em 20 ou 40 anos, o que o paciente enxerga é a urgência de sobreviver agora. A complicação só se torna real quando ele a vivencia.”

Mary também contou como explica aos pacientes sobre a DECH em seu programa:
“Nós introduzimos isso através de folhetos, de filmes… Todo ano mandamos aos pacientes perguntas sobre qualidade de vida, incluindo módulos sobre espiritualidade e sexualidade. Catalogamos essas respostas e devolvemos para eles.”

Ela comentou ainda sobre a angústia que os pacientes sentem ao serem diagnosticados com DECH e sobre os diferentes materiais usados para explicar a doença:
“Existe uma cartilha da doença do enxerto contra o hospedeiro para o paciente. Existem manuais e entidades filantrópicas nos EUA que produzem materiais educativos, redes de apoio, podcasts e bate-papos.”

A Dra. Carmen explicou que a AMEO criou um Comitê de Doença do Enxerto contra o Hospedeiro, no qual, uma vez por mês, especialistas de diferentes áreas da medicina trocam ideias com os pacientes sobre os diversos tipos de DECH.

Para finalizar, conversamos com a Dra. Mary sobre o atendimento de pacientes a longa distância. Esse é um problema no Brasil, onde pacientes percorrem grandes trajetos para uma consulta, mas também ocorre nos Estados Unidos. Perguntamos a Mary como ela organiza esses atendimentos a distância em seu país. Ela explicou que o teleatendimento foi implantado há muitos anos e que as responsáveis por esse acompanhamento são as enfermeiras, que, após avaliarem os casos, discutem com médicos especialistas. Segundo a Dra.:
“A chamada de vídeo ajuda muito. Com essa tecnologia, tudo fica mais fácil.”

De fato, a Dra. Mary Flowers é única. Fez uma jornada extraordinária e não apenas se destacou como especialista na área de DECH no mundo, mas também ajudou vários hospitais no Brasil a desenvolverem seus serviços, treinando profissionais e trazendo constantemente atualizações para os congressos. Quando perguntamos a Mary como ela via sua carreira, ela respondeu:
“Chamo isso de antologia, porque o transplante me tornou uma pessoa mais sábia.”

Autor – Flávia Fabreti