No segundo semestre de 2016, a Associação da Medula Óssea junto com o Hemocentro da Santa Casa de São Paulo possibilitaram que 19 doadores cadastrados pudessem contribuir com o transplante não aparentado, segundo dado divulgado pelo REDOME (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). Foi o maior número em todo o país.
Por ano, a AMEO cadastra mais de 13 mil pessoas no registro nacional. Para se ter uma ideia, são cerca de 250 novos doadores toda semana. A maioria dos cadastrados permanece por anos no registro sem ser chamado. E apenas alguns chegam à etapa final de doação: a retirada da medula para ser transplantada para o paciente. A chance para o doador de encontrar um paciente compatível é pequena. No entanto, para os pacientes essa chance aumenta, já que o banco de doadores é muito maior que o de receptores. O registro brasileiro é o terceiro maior do mundo e conta com mais de 4 milhões de doadores.
Encontro entre doadora e receptora.
O processo da doação é feita em várias fases. A primeira fase é o cadastro. O doador procura o hemocentro, motivado por diversas razões, cadastra-se e coleta a amostra de sangue para fazer o exame de HLA. A amostra é armazenada no laboratório e o resultado do exame com as características genéticas do doador é enviado ao Registro Nacional. Essa etapa pode durar até três meses, como é estabelecido pelo REDOME. Todos os exames dos doadores ficam em um banco de dados. Paralelo a isso, existe o REREME, o banco dos receptores, e todos os dias os resultados dos dois bancos são cruzados automaticamente através de um software especializado.
Se esse programa encontrar um doador compatível, o laboratório recebe uma solicitação do sistema pedindo a segunda fase. Nessa fase são feitas análises complementares do exame de HLA, como se fosse um exame mais detalhado. O laboratório faz esse exame a partir da amostra que já existe (desde que a amostra esteja em condições de ser usada), não sendo necessário coletar outra amostra de sangue. O resultado é enviado ao REDOME em até 15 dias.
Se o doador for compatível, idealmente entre 90% e 100%, é feito o pedido de exame confirmatório: a terceira fase. Nessa fase o doador é convocado a comparecer ao hemocentro no qual o cadastro foi feito para coletar uma nova amostra. Esta é, obrigatoriamente, encaminhada para outro laboratório que realizará novo exame para confirmar a compatibilidade. Nesse momento é importantíssimo que o cadastro do doador esteja atualizado, pois o contato deve ser feito com rapidez. Muitas pessoas já sensibilizadas com a causa são perdidas nessa etapa por falta de dados atualizados.
Se os exames se confirmarem, o doador é encaminhado para uma consulta com a equipe do transplante. São feitos mais exames para checar o estado geral de saúde dele. Nessa etapa a equipe esclarece todas as dúvidas sobre doação, anestesia, medicação, hospitalização, etc.
Simultaneamente, o paciente entra em um regime de quimioterapia e radioterapia (chamado de condicionamento) para eliminar a medula, possibilitando que ele recebe uma nova. Quando o receptor está passando por esse preparo, o doador não pode mais desistir da doação, já que a medula do paciente será destruída.
Para Evelyn Guerra Rapanello Iacontini, que trabalha no Hemocentro da Santa Casa receber esse número é a finalização de um trabalho. “Aqui nós fazemos as três fases. É um impacto grande a gente saber que o trabalho está dando certo. É muito satisfatório”, relata feliz a biomédica de 35 anos.
Evelyn trabalhando no laboratório de HLA do Hemocentro da Santa Casa de São Paulo.
Segundo o gerente da AMEO, Wagner Fernandes, a instituição se sente muito satisfeita pela grande conquista. “Para nós é muito importante ver o fruto de nossos esforços em números tão expressivos. Feitos como esse nos instigam a trabalhar para que os resultados melhorem ainda mais nos próximos meses”. Ele também ressalta a importância do doador. “Ficamos felizes quando as pessoas são convocadas e comparecem para doar. Sem eles não chegaríamos a esse resultado, contribuindo com o tratamento de tantos pacientes”, concluí.