Por Andressa Villagra
Em meados de maio de 2023, Lucas de Faria Teressan, de 16 anos de idade, realizou o transplante de medula óssea no Hospital Samaritano em São Paulo com a equipe da Dra Adriana Seber. Sua irmã mais nova, de apenas 6 anos, Isabella Maria de Faria Campos, foi a doadora da medula para um transplante haploidêntico, com 50% de compatibilidade. Após 13 anos de luta contra a Leucemia Linfoide Aguda, a família de Taubaté, São Paulo, conseguiu ver no transplante a melhor chance de cura de Lucas.
O diagnóstico de Lucas veio quando ele tinha apenas dois anos e sete meses. A mãe do menino, Sonia Mara de Faria, 42, conta que ele começou a ter muita febre e até parou de andar, no entanto o diagnóstico de LLA demorou três meses para ser confirmado, pois a doença infiltrou dentro do osso, dificultando a confirmação.
Desde o diagnóstico, em 2010, até o ano do transplante, Lucas e a família sofreram muitos sustos com as intercorrências na saúde frágil do rapaz. Com três anos ele iniciou o tratamento no GACC – Grupo de Assistência à Criança com Câncer, cerca de uma hora e meia de distância de Taubaté. Um dos momentos mais difíceis, segundo Sonia, foi após a radioterapia na cabeça que a criança de três anos precisou passar. Na última sessão, a dose de radiação foi tão forte que o menino entrou em coma e assim ficou durante quatro meses. Além disso, a radioterapia causou encefalite em Lucas, uma inflamação no cérebro que o impediu de fazer mais sessões de radioterapia.
Para Sonia, foi difícil de acreditar quando lhe contaram sobre a doença do filho. “A primeira vez eu ouvi o médico falar, eu fiquei em choque. Eu saí do hospital com ele, mas eu fiquei assim ‘avoando’, como se não conseguisse assimilar a notícia”, relembra emocionada. A mãe só percebeu a gravidade da doença do filho, quando voltou para sua casa em Taubaté. “Eu não consegui fazer nada, não consegui andar na cidade. Parecia que eu estava flutuando.” Somente quando o filho começou a rotina de tratamento no hospital, indo e voltando quase todo dia, quando conheceram outras crianças e outras famílias passando pelo mesmo que ela, que Sonia tomou consciência da doença.
Quando Lucas completou 11 anos, ele entrou em manutenção do tratamento. No entanto, Sonia sempre soube que ele não tinha se curado de fato e que a doença poderia voltar, até mesmo o médico do GACC a alertou para essa possibilidade. No final de 2022, Lucas começou a sentir muitas dores nas costas, não consegui mais andar de bicicleta, atividade querida pelo menino. Em janeiro de 2023, a LLA voltou. Sonia voltou com o filho no médico já decidida que queria o próximo tratamento fosse o transplante de medula óssea. Juntos, equipe médica e a família de Lucas, optaram pelo TMO como forma a melhor possibilidade de cura da doença e fim do longo tratamento.
Ao testarem a família, verificaram que Sonia e Isabella eram 50% compatíveis com Lucas. Procuraram ainda no REDOME e encontraram um doador com maior compatibilidade, no entanto, a doadora com 60 anos foi descartada por ter idade avançada para doação. Assim, seguindo o critério da idade da medula para garantir uma sobrevida melhor a Lucas, optaram pelo transplante haploidêntico com Isabella, irmã mais nova.
A menina falante e sorridente, em nenhum momento sentiu medo da doação. O procedimento de coleta das células da medula foi por aférese. Isabella encarou com coragem cada momento da coleta. “Foi ótimo ajudar meu irmão. Eu não fiquei com medo, minha mãe me contou tudinho o que ia acontecer. Eu só tirei o sangue, uma agulhinha no braço, nem doeu, nem demorou.”, conta empolgada. Com os olhos marejados, Sonia conta sobre o orgulho que sentiu da filha: “A emoção foi muito grande, ver um ajudando o outro.”
O transplante precisou ser realizado em São Paulo e durante esse tempo Sonia, Lucas, Isabella e Rodrigo Donizete, 41, padrasto de Lucas ficaram hospedados na Casa de Apoio da AMEO. “Muda a vida de perna para o ar, mas é por uma boa causa.”, diz Sonia sobre a estadia longe de casa.
Hoje, mais de um mês após o TMO, o menino se sente muito bem. “No começo fiquei assustado, mas depois que os médicos foram conversando e explicando, aí eu fiquei tranquilo.” Mesmo após o transplante, a genética ainda está dando positiva. Ele continua tomando quimioterapia oral e talvez precise trocar as células do corpo inteiro. A medula está produzindo as células do sangue e ele nem precisou de transfusão de sangue. Lucas teve DECH (Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro Aguda) na pele e vírus Herpes 6, por isso precisou tomar antibióticos e transfusão de plaquetas.
No futuro, Lucas espera ter uma vida normal pela primeira vez, pois a rotina da vida foi sempre frequentando o hospital. Sonia já vislumbra os próximos anos de vida do filho. “Eu quero que ele viva, quero ver ele bem, feliz, vivendo, conquistando os sonhos dele. Ele não teve infância, só hospital, hospital, hospital…” Para a mãe, mesmo que a cura não venha com o transplante, ela confia veementemente que virá de alguma forma e ela fará de tudo para que seja o mais breve possível.